Editorial - Roubo de cargas virou epidemia


Um problema antigo e cada vez pior, afetando os negócios, na indústria e no comércio, com impacto direto no bolso do consumidor final. Assim os empresários brasileiros enxergam o roubo de cargas, que apontam como o braço financeiro do tráfico de drogas e de armas. Estudos há pouco divulgados pela Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), reforçam as preocupações. No País, considerado o período compreendido entre 2011 e 2016, o roubo de cargas causou prejuízos diretos que vão além dos seis bilhões de reais, com registro de 97,7 mil ocorrências, sobretudo nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro. Feitas as contas, a conclusão é de que a cada 23 minutos um caminhão de carga é roubado no País, que é o oitavo mais vulnerável para o transporte de cargas, num conjunto de 57 países avaliados. Outro dado que impressiona: em apenas 44 dias as ocorrências registradas equivalem ao total ocorrido nos Estados Unidos e na Europa em um ano.

Não são apenas as transportadoras, seguradoras ou donos de mercadorias que estão pagando essa conta. Os estudos da Firjan demonstram que a elevada incidência de roubos implica numa reação em cascata, começando pelos fretes. O gerenciamento de riscos implica em maiores gastos com monitoramento, escoltas, sistemas de travas eletrônicas e até blindagem, conforme o valor da mercadoria transportada, tudo isso impactando o custo do frete. Num ambiente de alta exposição a riscos são maiores os custos dos seguros, sendo de se considerar também as paralisações de linhas de produção pela não entrega de componentes e, no varejo, as vendas que deixam de ser realizadas simplesmente porque as mercadorias não chegam às prateleiras. Em síntese e chegando à ponta final do consumo um ônus que pode chegar aos 35% para o consumidor.

Tudo isso é parte do custo Brasil, dos riscos que afastam investidores, comprometem a eficiência de muitos negócios e reduzem a competitividade da produção nacional. Da mesma forma, pontos a corrigir, seja em atenção às questões sociais atreladas ao problema, seja por conta de sua dimensão econômica. Mudar, dizem empresários e especialistas que conhecem mais a fundo o assunto, demanda melhor controle das fronteiras, mais atenção à venda de aparelhos eletrônicos que anulam os sinais dos bloqueadores utilizados em veículos de carga, e melhor articulação entre as diversas forças policiais. Tudo isso e também mais severidade nas punições, especialmente aos crimes de receptação, armazenamento e venda de produtos roubados. Em síntese, é preciso agir e sem perder tempo.

 

Diário do Comércio